retratos do tempo: um olhar sobre algumas crenças



      13.07.24







nos espelhos do tempo, as crenças se revelam como retratos da alma em constante evolução. 
será que posso acreditar?


    o passar do tempo tem um jeito peculiar de nos moldar. eu olho para o espelho e não vejo apenas as evidências físicas que se acumulam com os anos, mas uma paisagem emocional em constante transformação. as relações que construí, os amores que vivi e as decepções que enfrentei parecem esculpir em mim uma nova forma de ser, um novo jeito de enxergar o mundo. um ciclo de renovações contínuas. há momentos em que me pergunto: estou me tornando mais ranzinza e pessimista? eu tinha uma visão sobre o amor, quase que inabalável, e agora parece uma chama bruxuleante, ameaçada pelo menor sopro de vento. é difícil saber se essa mudança é um reflexo de uma desilusão crescente com a maneira que o mundo se apresenta na realidade, uma tentativa de autodefesa ou se é, simplesmente, um ajuste necessário à medida que amadureço emocionalmente. quando eu me olho vejo uma fortaleza, pronta para se proteger de qualquer invasor. ser vulnerável já foi muito assustador. hoje em dia já mostrei esse meu lado para alguém mas não se pode ancorar toda a existência a um só porto. navios correm o risco de naufragar. mesmo florescendo e trazendo alegria em certos momentos, o amor é um jardim em um deserto. encontra-se sempre vulnerável a tempestades de areia e à escassez da chuva. sua beleza é real, mas sua permanência nunca é garantida. os contos de fadas entorpecem nossa visão de mundo. o amor, é uma jornada cheia de percalços, compromissos e muitas vezes frustrações. perceber e entender isso não significa perder a sensibilidade, mas talvez desenvolver uma visão mais realista e equilibrada das coisas como são. 

  a verdade é que meu otimismo juvenil se esvaiu. não sou a mesma pessoa de um ano atrás. definitivamente. acredito que dei lugar a uma visão mais crítica. mas será isso necessariamente ruim? talvez seja um passo natural. talvez seja falta de fé nas minhas relações. talvez pessimismo na vida. talvez tudo junto ou talvez nenhuma. a ranzinzice que sinto emergir pode ser uma defesa natural contra a repetição de erros. o pessimismo, uma lente que, embora escureça as cores vibrantes de uma experiência, também oferece uma nitidez que antes nos escapava. eu não quero me tornar amargurada. é possível que eu esteja desenvolvendo uma sabedoria que apenas o tempo e a experiência podem proporcionar. ainda preciso entender isso. no final das contas, talvez não se trate de perder a fé no amor, mas de redefinir o que ele significa para mim. eu não quero me enganar. 

    mas assim eu navego. por este mar de mudanças internas, escolho ver a ranzinzice e o pessimismo como companheiros de viagem. podem me ajudar um dia. eles me desafiam a reavaliar minhas crenças. me preparam para enfrentar o futuro com uma força que só a verdade nua e crua pode fornecer. talvez, ao final desta jornada, eu encontre um novo tipo de resposta: mais real e concisa. mais racional e ao mesmo tempo, acima de tudo, mais humana.

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