limites do coração
18.12.23
ao centro de uma região costeira, eu sinto o cheiro do mar e o sopro do vento. estou no lugar seguro em que estive anos atrás, sob a areia branca e a mesma vista para o horizonte, com raios de sol despertando uma autoconsciência ensurdecedora em mim.
há um tempo atrás eu estava em uma viagem interna importante em minha vida. estava feliz com o que tinha e com a situação que vivia. me lembro das metas e de traçar sonhos. sempre gostei muito de verbalizar os pensamentos para me entender. as palavras funcionam comigo. a ausência delas não. é difícil interpretar o silêncio, principalmente quando vem de alguém que gostamos. antes, eu não pensava dessa maneira e as conversas difíceis me incomodavam. hoje, eu sinto que o diálogo é necessário. digo isso por estar em uma realidade diferente agora.
de alguma forma, tento encarar cada experiência de forma resiliente, mas ainda existem enigmas no grande labirinto do mundo e existem momentos em que sinto uma sombra me consumindo novamente. há momentos em que não me lembro da dor, mas travo batalhas contra minha própria mente. mesmo sem saber o que poderia vir, segui um dia após o outro. e agora eu estou aqui, voltando ao mesmo lugar porque preciso abrir espaço na minha mente para novos rumos. novas soluções e novas tentativas. as coisas que tento resolver tem sido um desafio, já que não tenho mais um mentor que me aponte a direção certa. sou eu mesma por mim mesma. acho que será sempre assim, na verdade. existem noites inquietas em me vejo questionando as decisões que tomei e as linhas que tracei. como viajante solitária, navego em águas turvas e pondero se escolhi o caminho certo de um alguém certo.
alguém certo: isso existe? a incerteza, às vezes, se intensifica. pensamentos são monstros que crescem. eu me pergunto até que ponto devo tolerar as imperfeições do outro, consciente de que todos carregamos nossos próprios defeitos. entendo que cada indivíduo traz consigo cicatrizes de suas experiências vividas. mas eu questiono: até que ponto devo enfrentar as tormentas e aceitar as falhas que compõem o intricado tecido do amor? até que ponto é saudável? e qual o momento certo de arrumar a mala e ir embora? eu queria respostas.
amar é explorar territórios desconhecidos, é permitir que o coração seja o guia. só que isso é perigoso. quando encaramos a complexidade da convivência, nos deparamos com os limites que definem nossa própria essência. e o amor é belo, sim, em sua amplitude, mas onde será que está a sua grandeza? há momentos em que eu simplesmente quero desistir. não acho que eu seja o tipo de pessoa que não seja de relacionamento, mas não é fácil estar em um e com uma pessoa de temperamento diferente do seu. assim, eu mergulho na reflexão e busco a sabedoria necessária para discernir a sombra da luz.
no poema do amor, a resposta pode residir na coragem de encarar as próprias dúvidas. eu luto com isso. às vezes a resposta é um não. lidar com isso também é uma tarefa e aceitar que aquela pessoa que você enxergou um dia no meio de uma multidão, um dia pode vir a ser uma pessoa que você não conhece mais, é outra. com os olhos da razão eu busco enxergar a verdade e a verdade muitas vezes é dolorida, mas eu gostaria de dizer que estou me preparando para a eventual verdade que aparecer.
vejo que alguns pássaros voam em conjunto perto da costa do farol. é uma dança leve e mútua. eles entendem a importância do estar junto. isso faz deles um grupo melhor e mais forte. a verdade é que eu tento, ao máximo, não adentrar nos recantos da ideia de “término”, mas essa palavra continua aparecendo. eu devo encerrar meu ciclo com a pessoa? como eu sei que não sou uma substituta? ela me ouve mesmo? pensamentos horríveis. é nessa hora que as paredes do labirinto começam a se estreitar e na onda do desespero, sem achar saída, tudo o que você pensa é se lançar contra elas e atravessá-las sem olhar para trás. correr para longe onde ninguém pode jamais tocar os seus sentimentos. nesses momentos fico compelida a sondar as águas da despedida. não por desejo, mas por uma necessidade intrínseca de compreender os rios turbulentos que percorrem os meandros do relacionamento.
crises.
mais perguntas aparecem: posso me sentir confortável para conversar com alguém que evita as conversas difíceis? não posso falar das minhas inseguranças? se não, então não é o meu porto seguro. por que a pessoa foge? alguém que não dá sinais de planos futuros a dois. fica bravo. se fosse para brincar de casinha, eu faria isso sozinha. são atitudes que desanimam. ou a falta delas.
não pedi a Deus para estar em um relacionamento. se fosse para me magoar eu nunca escolheria estar com alguém. não despenderia tanta energia para no final sair machucada. há uma relutância. eu vejo isso. a outra pessoa também tem suas questões, mas se continuar se fechando em si mesma e for fugir em todas as conversas complicadas, realmente agora então poderei dizer que não irá funcionar. eu tenho medo de mim inclusive. e se eu deixar de amá-lo? não quero que isso aconteça. as crises acontecem e fazem parte, mas em noventa por cento das vezes não. eu preciso me redescobrir e preciso me analisar mais.
quero tentar resolver, mas se não funcionar, então definitivamente farei minha mala. e eu vou ter que suportar isso. confrontar a ideia de um ponto final infelizmente precisa ser algo consciente dentro de nós. o meu questionamento de hoje é: qual é o limite do amor? até que ponto vale a pena? sempre há valores no meio disso, então eu pergunto: você quer conforto ou solução? se a sua resposta for conforto, termine. seu relacionamento certamente morrerá. se quiser solução então tente, mas não sozinha, porque aí certamente também morrerá. eu arrisco dizer que talvez o amor encontre sua grandiosidade na aceitação mútua das fragilidades e na capacidade de resistir às tempestades que ameaçam a estabilidade emocional, mas não são todos os caras nem todas as mulheres que querem tentar.
espero que tudo se resolva na medida do possível porque ninguém quer encerrar uma boa história, mas todos querem a mediocridade, o momento e o fácil. você não pode desgastar algo constantemente e esperar que sua energia seja a mesma. pois não vai ser.
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