rosa murcha: ceticismo e esperança.

 


      22.10.24 



  porque a incerteza vem e a dúvida pesa. como a brisa leve de outono preza, perpassa por lugares que o tempo despreza. me leva as pétalas desbotadas que estão aqui, cabisbaixo no chão, estão a desbotar. vejo o que se desafaz. na fragilidade a esperança se faz. é preciso tomar como meu, deixar o medo em vão. dançar com a vida, seguindo o coração.


será que vai dar certo? eu me pego refletindo sobre isso com frequência. ainda não sei se são pautas de estresse incerto e temporário ou se realmente deveria me preocupar com isso. mas é certo: são idas e vindas. por isso eu escrevo. me ajuda. como se a resposta estivesse em algum lugar escondido no tempo ou nas palavras, sempre além do meu alcance. são dúvidas incessantes, que carrego em silêncio. 

sinto que me tornei cética demais. as coisas anteriormente me pareciam ter um brilho implícito e mais aprimorado. hoje em dia é como se eu não esperasse nada e ainda me vejo indiferente e preparada para o pior. tanto faz, a vida é assim mesmo. palavras de amor, promessas, planos. tudo soa abafado. parte de mim não acredita plenamente nelas. se tudo vem para ensinar algo, então já sabemos como isso termina, não? 

acho que me encontro em uma fase da vida em que me preocupo demais em como estou me preparando para o futuro. porque eu o vejo solitário. desde os 15 anos. quer dizer, se eu não puder me garantir por conta própria, o que será de mim? provavelmente essa sensação possa ser uma mescla de circunstâncias simultâneas acontecendo na minha vida, que me fazem olhar para dentro de mim e me questionar se estou sendo sincera comigo mesma. 

a faculdade é uma delas. um ambiente desordenado, que reúne as mais diferentes pessoas em pequenas bolhas de interesse comum, que muitas vezes não é o interesse verdadeiro de todas as partes. acredito que tenha idealizado demais essa ideia da evolução profissional antes de adentrar nela, já que, não é todo mundo que realmente valoriza o conhecimento como processo e não é todo mundo que realmente se sente satisfeito em perpassá-lo adiante. resumindo: você acha que vai ser um processo enriquecedor durante a maior parte do prazo, quando na verdade percebe que a socialização e prazer momentâneo são o principal foco da maioria. às vezes eu admito que não entendo totalmente essas formas de evasão fugaz. para mim, as coisas parecem claras nesse quesito, no sentido de que, se não estou bem ou feliz, eu vou me cuidar, vou me buscar e me interpretar. a opção de me denegrir para jogar dores para debaixo do tapete por algumas horas nem caberia a mim como uma possível opção. 

as pessoas gostam de conforto instantâneo. não acho que seja errado. acredito que cada pessoa deva ter seus motivos e suas dores para agir da forma que age. mas há um desequilíbrio quando você alimenta só um lado da balança. isso em qualquer caso. portanto, acredito que me encontro em um estado de progressão contínua, que muitas vezes é uma escolha com consequências solitárias. quem quer momento procura pertencimento e não escolhe comprometimento. o comprometimento está altamente ligado a uma noção considerável de auto conhecimento e coragem. qualquer tipo de responsabilidade. seja na coragem de admitir que não se sabe algo ou que errou, seja no nível de auto percepção que temos de nós mesmos, em relação a quem somos de verdade, o que temos como perspectiva e o que podemos fazer para que cheguemos até lá. 

é uma vivência um tanto frustrante até determinado ponto. não sei se sou muito exigente ou inflexível demais, mas aprendi. aprendi a apreciar a companhia de pessoas diferentes de mim. é um bom aprendizado, algo que nunca se dará como "feito" na vida. será para sempre e consequentemente algo que poderá ser promissor futuramente. disso eu sei. no entanto, é como se essas pessoas se encontrassem colocando esforço em apenas um lado da balança. esse é o ponto da desavença. já senti isso antes e é como se isso estivesse voltando. mas antigamente, não soube exatamente como lidar com isso. fiz um corte brusco na lista de pessoas da minha vida e sumi do mapa. confesso que não é a maneira mais agradável de lidar com a situação. por isso que agora, sentindo a mesma coisa, poderei agir diferente. fico satisfeita com isso, mas me encontro em uma posição de relutância, como é comum sentir quando temos que fazer uma escolha que provavelmente te fará abrir mão de um lado que está sendo colocado em jogo. 

eu me encontro assim: me encarando, me convencendo a fazer escolhas desconfortáveis mas que poderão ser positivas se eu tiver coragem o suficiente para fazê-las. e preciso olhar para mim e me perguntar se o que sinto sobre determinados casos faz sentido ou se esse ceticismo que se apossou de mim durante esse lapso de passagem é intrínseca ou é uma autossabotagem infiltrada intimamente e presa ao meu processo de pensamento. porque eu também tenho consciência dessa autossabotagem presente em mim. 

não tinha chegado a essa conclusão anteriormente, mas agora que estou escrevendo, consigo enxergar onde ela tem a maior força para se alojar em mim: no espaço entre o ceticismo, a insegurança e a esperança. talvez, como a brisa leve de outono, eu deva aprender a deixar algumas dúvidas passarem. não as ignorar, mas permitir que se dissipem, para darem espaço para a esperança florescer novamente, mesmo na fragilidade.


 



 












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