viagem sob um infindavél trilho de hesitação

 

19.01.25


nos despejamos inteiros tentando cobrir a borda da validação em nós, sangramos tentando cumprir a garantia que queremos buscar. a realidade é sempre como um raio que cai sem chuva. e eu sigo assim. eu caminho todos os dias com ignorância, sabendo muito bem que circulo a trilha da negação em busca de certezas e motivos para ir embora, mas sem ir embora. 

porquê? 

eu me perco todas as vezes. 

acho que não sei mais o caminho. 


para a criança que desanimou aqui dentro: eu me lembro de nossa promessa. prometi que viveria por nós duas. 


o trem balança suavemente enquanto atravessa uma paisagem que eu mal consigo enxergar pelas janelas embaçadas. as luzes do vagão oscilam ocasionalmente com o movimento, como se lutassem por uma estabilidade que só chegaria quando essa viagem terminasse. 

o silêncio é palpável para quem observa, mas os murmúrios entre sílabas cortadas mostravam a vivacidade do vagão. os assentos ao meu redor, alinhados como livros em uma estante, me mostravam uma linha de raciocínio e um sentimento antigo. tento me lembrar do momento em que entrei neste trem, mas minha memória falha. a única coisa que sei é que estou aqui, sentada, com as mãos inquietas no colo e um peso inexplicável no peito.

a cada parada, as portas abrem e se fecham. pessoas entram e saem. é como se o trem estivesse esperando que eu tomasse uma decisão. mas eu estava lá, parada, e permanecia em um silêncio mortal acompanhado de pensamentos desenfreados sobre o tudo e mais um pouco. incapaz de me levantar, incapaz de descer. talvez eu não saiba o caminho lá fora, ou talvez seja uma esperança vazia de que, no próximo destino, apareça alguém para me mostrar o caminho. afinal, eu deveria esperar por isso?

olho para o reflexo no vidro da janela. minha própria imagem me encara de volta, pálida e borrada, como se eu fosse uma sombra de mim mesma. tento buscar em meus olhos alguma certeza, algum motivo para estar aqui, mas tudo o que vejo é o vazio que tanto temo, como se o meu reflexo traduzisse todas as minhas vunerabilidades. por um instante, senti o impulso de puxar a alavanca de emergência, para fazer o trem parar. talvez caminhar pelos trilhos seja menos aterrorizante do que seguir esse caminho desconhecido, mas as minhas mãos permaneceram imóveis. 

e assim sigo, sendo carregada por uma força que não consigo controlar, circulando a trilha da negação, tentando convencer a mim mesma de que, em algum lugar nesse percurso, encontrarei as respostas que procuro. 


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