sete de agosto

 


07.08.25


Luz baixa, céu nublado e som de chuva lá fora. Eu estava na cozinha preparando uma xícara de café para mais uma de minhas tardes sonolentas. Não havia ninguém no aposento além de pequenos rios brilhantes que dançavam nos vidros da janela me fazendo companhia – as gotas de chuva caíam. O aroma intenso do café recém passado preenchia o ar, misturando-se com o cheiro de terra molhada que vinha da porta da varanda aberta. Era um apartamento pequeno, mas aconchegante.  A luz amarela do abajur projetava pequenas e longas sombras distorcidas nas paredes, como se minhas plantas estivessem expressando algo. A base em madeira natural lança uma luz baixa e quente, criando esse jogo de sombras suaves nas paredes e trazendo uma sensação de “lar”. 

LAR.  

O que é um lar?  No que está pensando? 

Estava frio. Me servi de uma xícara e resgatei o moletom que estava deitado sobre o meu sofá em "L" de tecido bege claro, macio e convidativo, adornado com almofadas em tons terrosos e um cobertor delicadamente repousado em sua extensão, sugerindo elegância e aconchego. Com as mãos ainda aquecidas pela caneca, girava devagar a colher dentro da xícara, observando as pequenas ondas que se formavam na superfície escura do café, quase morno, quase esquecido naquele instante em que minha mente vagava para longe do presente. 

Eu encontrei o meu lar? 

Senti o perfume dele no moletom. Me lembrei da forma como ele ajeita os cabelos, passando os dedos pelos fios de maneira despreocupada, às vezes de maneira automática. Ele não gostava de fios desalinhados. Caso estivessem, voltava ao ponto inicial de seu momento de autocuidado para fazer um reparo rápido e prático.  

Ah, sim, ele é prático.” -  Pensei.  

Me peguei sorrindo sozinha. Pensando no sorriso dele — encantador, que parece acontecer primeiro nos olhos e depois na boca. Um sorriso que interrompe qualquer pensamento meu. Um sorriso que parece brincar com o tempo, que deixa tudo mais leve, mais bonito. O mais lindo que já vi.  

Lembrei de como ele fica atento quando está jogando, os olhos concentrados, as sobrancelhas arqueadas, como se o mundo ao redor deixasse de existir por um instante. E quando ele está pensando em alguma estratégia, coça a barba com aquela calma típica dele, como se aquele gesto o ajudasse a desbloquear soluções… é um gesto tão dele que me dá vontade de parar o tempo ali. Percebo que gosto de observar o jeitinho dele, acho engraçado. É fofo.  

Será que ele sabe que reparo nele? 

Nas duas pintas que ele tem na bochecha direita, equidistantes como se tivessem sido colocadas ali de propósito, como um carimbo. Nas pintas do peitoral esquerdo que formam um triângulo — e sim, eu conto, traço linhas imaginárias com os olhos ou com a ponta dos dedos. Gosto de estar nos braços dele. Me sinto no lugar mais seguro do mundo. Ele também tem aquele pelo na orelha dele, que nasce sempre no mesmo lugar — e por alguma razão, eu acho isso engraçado. Rimos juntos no dia que notamos isso.  

Admiro até os detalhes mais cotidianos, como o jeito que ele põe o braço atrás da cabeça quando está assistindo TV comigo. Como ele reclama (com amor) quando me vê roendo as unhas. Ele odeia. Ele odeia quando pergunto algo simples como “que cor de esmalte uso hoje?” ou “qual cor de short você acha que fica melhor? Branco ou marrom?”. É, ele não gosta muito da minha indecisão com algumas coisas, mas acho que se acostumou. Percebi que, essas ocasiões eu só tento o trazer um pouco para o meu mundo.  

Ele tem o talento de me fazer rir com uma facilidade absurda, mesmo quando eu estou em mil pedaços por dentro. E mesmo com esse lado prático, distraído às vezes — como quando esquece o recipiente das lentes sempre aberto ou esquece algo na minha casa — eu vejo nele algo que pouca gente vê: o lado sentimental, amoroso, profundo. Ele sente. E sente bonito. E isso... me faz olhar um lado dele que eu não conhecia. Me faz admirá-lo muito mais. 

É estranho pensar o quanto a presença dele se encaixou na minha vida de maneira tão natural, tão certa. Como um molde perfeito. É como se, sem pressa e sem alarde, ele tivesse se tornado casa. E eu, que sempre fui feita de medos e silêncios, encontrei nele o tipo de amor que não sufoca, que não exige, que só fica — e, ficando, floresce. Acho que meu amor por ele tem tudo para florescer mais. Dar frutos futuramente, degrau por degrau. 

Me apaixono sempre que estou com ele. E toda vez que isso acontece, tenho mais certeza: é com ele que eu quero estar.  

Acho que encontrei meu verdadeiro amor. 

A chuva ainda cai lá fora. O café já havia esfriado entre minhas mãos, mas eu continuo aqui — envolta nessa lembrança viva dele, nesse sentimento que me atravessa em silêncio mesmo sem eu dizer nada. Enquanto tudo isso se desenrolava dentro de mim, o tempo também corria. Checo meu telefone: já passou da meia noite. Hoje é o dia dele. 

Hoje é dia sete de agosto. 

E tudo isso que senti, pensei e escrevi — é sobre o meu amor.

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